quinta-feira, 31 de março de 2016

Crítica: Zootopia - Essa Cidade é o Bicho



A mais nova animação dos Estúdios Disney trás de volta aos cinemas o que sempre podemos esperar de um filme Disney: algo para toda a família, piadas bem colocadas, personagens que vão grudar na nossas cabeças e, claro, uma mensagem muito bonita por trás de tudo.

Zootopia conta a história de Juddy, uma coelha que sonha em sair da sua cidade do interior e virar uma policial na cidade grande de Zootopia onde, ao ver dela, tudo é perfeito, as pessoas se respeitam e não há qualquer distinção ou problemas.
Apesar da vontade contrária de seus pais e de frases desmotivadoras de muitos outros animais, Juddy consegue alcançar seu sonho e se muda para Zootopia, sendo a primeira coelha policial da academia (muito para o espanto de todos os policiais, em sua maioria, animais grandes e fortes como ursos, leões, rinocerontes entre outros).
Para sua tristeza, Juddy se torna uma guarda de trânsito e Zootopia se revela um lugar bem diferente do que ela sempre sonhou. Há muitos problemas, muitas espertinhos e, principalmente, muito preconceito.
E esse é o ponto central da trama: o preconceito. Presas e predadores não se dão perfeitamente bem no mundo de Zootopia, apesar de terem evoluído a um ponto onde não se caçam mais. É visível a mensagem que o filme quer passar, transportando nossa sociedade para a sociedade do filme, com analogias ótimas e piadas muito bem inseridas (às vezes em coisas pequenas como nomes de lojas e marcas estampadas nas vitrines da cidade, todas com nomes alterados e referenciando animais).
Uma das primeiras cenas mais emblemáticas é quando Juddy conhece a raposa Nick, com quem contracena ao longo do filme. Ele está em uma sorveteria de elefantes, apesar de ser uma raposa, e o dono do lugar se recusa a atendê-lo, inclusive mostrando um cartaz que lhe dá esse direito, remetendo perfeitamente aos Estados Unidos da época da segregação racial, onde brancos podiam se recusar a oferecer serviço a negros.
Ao longo do filme, a narrativa tenta desconstruir outros preconceitos que parecem pequenos para quem talvez quase não sofra nenhum preconceito, mas que são quase gritantes para as minorias, como uma cena onde Nick chama Juddy de "coelhinha fofa" e ela alerta que ele não pode dizer isso, já que ele não é um coelho. Se fosse outro coelho, não haveria problema, mas ele é uma raposa. Podemos fazer uma ligação direta a frases e modos de minorias se chamarem entre si, mas que não é aceitável quando alguém de fora os chama como tal.
Quando o grande vilão do filme é revelado e seu plano também (que consiste em "nós como presas, somos maioria da sociedade e devemos colocar os predadores, que são minorias, em seu devido lugar"), denota uma realidade que estamos vivendo nos dias de hoje: as maiorias estão sobrepondo-se aos direitos das minorias, às vezes até de forma violenta, outras de forma velada.

Apesar de um roteiro fraco, às vezes previsível, Zootopia ganha pontos com seus personagens cativantes e suas piadas e referências à cultura de nossa sociedade (como a lerdeza dos departamentos de trânsito ou mesmo uma cena inteira sobre um chefão da máfia que remete, em muito, ao filme "O Poderoso Chefão"). Com uma animação bonita e um final satisfatório, é um filme da Disney como qualquer outro e que muito provavelmente não vá se destacar tanto quanto Frozen e outros grandes clássicos, mas que, no fim das contas, vale a ida ao cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário